segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Projetos com acrílico, cristal e vidro dão o tom na decoração

Quando proferiu a célebre frase “Menos é mais”, o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, considerado um dos maiores do século XX, não se referia a transparências. Mas seu pensamento, sempre atual, também se aplica ao tema desta reportagem. Afinal, a quase invisibilidade do mobiliário e de objetos decorativos confere leveza e simplicidade aos ambientes, e os quatro projetos da 21ª edição da mostra Casa Cor deste ano, nesta página, demonstram isso. Seja por meio do uso de acrílico, vidro ou cristal, a tendência se revela contemporânea. Em alguns casos, é o elemento neutro necessário e serve também para unir peças atuais a ambientes clássicos.
Incumbido de intervir num banheiro art déco, no segundo andar do palacete Linneo de Paula Machado – onde a mostra acontece este ano e ficará até 16 de novembro -, o arquiteto Luiz Fernando Grabowsky procurou preservar ao máximo o estilo original do local. Construído na década de 1930, numa das reformas sofridas pelo palacete, o banheiro ostenta nas paredes cerâmica vitrificada importada, azul-turquesa, e nas pias, cubas de prata de lei. Todos os metais foram polidos e cromados e os mármores, limpos.
Toque contemporâneo a ambientes de época – Junto a um espelho de corpo inteiro, colocado pelo arquiteto numa das paredes, foi encostada a cômoda de acrílico transparente “Ghost buster”, do designer Philippe Starck. À frente dela, uma cadeira feita do mesmo material, também de grife: a “Thalya”, de Patrick Jouin.
“O mobiliário de acrílico, com um design superatual e afinado, não brigou nada com o estilo do banheiro. Eles são, de certa forma, neutros, o que é perfeito para este tipo de intervenção”, diz Grabowsky, que é presidente do Instituto Art Déco do Brasil.
O arquiteto ressalta que sua maior intervenção no banheiro foi forrar o mármore das paredes laterais à banheira com gesso e nele inserir pastilhas, reproduzindo um painel do artista plástico falecido Paulo Werneck, que está no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
No cocktail lounge bar, assinado por Jairo de Sender, a mesa de jantar tem tampo de cristal e as cadeiras são de acrílico transparente. Com 2,20 metros, a lâmina fica apoiada em quatro cavaletes de acrílico de cor laranja. Em cima da mesa, arranjos florais de Tuca Loeb dão a impressão de brotarem da mesa. Seguindo o estilo irreverente do arquiteto, o local mescla de tudo: de veludo a patchwork, de acrílico a fórmica.
No teto, uma brincadeira inusitada: molduras antigas de Jaime Vilaseca. Segundo Sender, a ideia da transparência foi não ofuscar as obras de arte do lounge, como as telas de Gil Cabral.
“O mobiliário não concorre com outros elementos, que devem sobressair”, explica Sender, acrescentando que uma decoração deve ser algo atemporal e surpreendente.
Responsáveis pelo jardim de entrada da Casa Cor, Daniela e Sonia Infante projetaram um ambiente contemporâneo, que contrasta com o palacete francês de estilo eclético, mas de forma sutil, sem destoar. O lounge central do jardim tem dois sofás, poltrona, mesa de centro e dois bancos feitos de tela de galinheiro galvanizada, todos da Arteiro. Os futons usados têm tecidos Mucki Skowronsky.
“O palacete é muito pomposo, então nossa ideia foi elaborar uma decoração simples e contemporânea, mas mantendo um diálogo com a arquitetura da construção”, explica Sonia.
Pendendo de um dos galhos de uma árvore, três luminárias chamam a atenção. Elas são lanternas que abrigam lustres, todas peças confeccionadas por Sonia. Dois lustres são de cristal e um, de acrílico. O resultado, diz, é simples e sofisticado, ao mesmo tempo.
“Fiz a adaptação, inserindo os lustres nas lanternas, e acho que ficou interessante tanto para o exterior quanto para o interior de uma casa”, conta Sonia. “Não queria nada que pesasse.”
Na grande varanda do palacete, as arquitetas Angela Frota e Anna Luiza Rothier montaram um jardim contemporâneo. Duas cadeiras “Ghost”, de Philippe Starck, dividem espaço com plantas, um sofá de vime e um aparador de madeira e vidro. Em cima de uma mesinha, cachepôs e cubos de vidro com plantas dão impressão de que o verde está in natura.
“Gosto muito de usar vidro e acrílico, materiais que resistem bem em áreas externas”, diz Anna. “Além disso, as transparências são um bom caminho para mesclar o contemporâneo com elementos de época.”

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